O cantor Kleber Lucas concedeu uma entrevista afirmando que suas iniciativas de aproximação de religiões afro-brasileiras resultaram numa espécie de boicote das denominações e emissoras de rádio evangélicas.
Em 2017, Kleber Lucas adotou uma postura agressiva contra parte do segmento evangélico afirmando que a teologia pregada nas igrejas é “racista”, chegando a afirmar que os cristãos dessa tradição doutrinária nutrem “ódio”.
Agora, ele acredita que sua participação em um evento inter-religioso foi o que levou o meio gospel a desprezá-lo: “Fizeram um café da manhã em um centro candomblecista em Caxias que havia sido incendiado, vítima de intolerância religiosa. Uma igreja cristã decide levantar uma doação de R$ 12 mil e pergunta: ‘Você tá dentro?’. Falei: ‘Claro que estou’. Porque isso está em harmonia com a mensagem do Cristo. Uma mensagem de amor”, disse Kleber Lucas, resumindo o episódio na entrevista à revista Veja.
“Essa mensagem de ódio não tem nada a ver com Jesus de Nazaré. Fomos lá fazer uma entrega [de doação], foi um momento lindo, uma manhã agradabilíssima, com gente das mais variadas confessionalidades. Você olhando para seres humanos que estavam na mesma causa, a causa solidária. Olha que coisa linda”, argumentou o cantor.
Kleber Lucas disse que seu ocaso diante da opinião pública no meio evangélico surgiu de um momento de espontaneidade durante o encontro inter-religioso no centro candomblecista.
“No meio daquela programação, eles perguntaram: ‘Você pode cantar uma música?’. Que música que se canta num ambiente plural? Uma música do Kleber Lucas? Não faz sentido. Cantei Maria, Maria, alguém filmou e publicou. Aí o Kleber Lucas de 25 anos de caminhada cristã no Brasil deixa de ser um líder, um pastor, um cantor de relevância na boca de muita gente e passa a ser ‘preto safado’, ‘crente safado’, ‘pastor safado’, ‘amigo de comunista que merece morrer’”, acrescentou, descrevendo as agressões que alega ter sofrido.
Em seguida, o cantor fez novas acusações ao meio evangélico: “Essas pessoas estão aprisionadas a imposições, a uma linguagem que as amendronta. Eu não vou me calar, e eu desafio essas pessoas a serem uma voz que não vai ser silenciada por causa de ameaças e ódios explícitos das redes [sociais]”.
“Para muita gente no Brasil eu deixei de ser pastor. Aliás, para muita gente eu nunca fui. Mas quando eu me volto para minha casa, para os meus filhos, e tenho o respeito deles… quando eu me volto para minha comunidade, que tem a forma mais plural de social, de convivência, casais de 30 anos de casados, casais recém-casados, recasados, gente que chegou separado e voltou na comunidade, eu vejo olhares para mim dizendo ‘você é o nosso pastor’. Isso consegue me dar força, isso tem me sustentado”, contou, antes de cantar novamente um trecho de Maria, Maria.