A qualidade e criatividade da banda Palavrantiga tem alcançado muitas pessoas, inclusive fora do meio cristão. O site Whiplash, um dos principais portais sobre rock no Brasil, indicou uma entrevista com a banda realizada para o blog Aliterasom.
O portal destaca a revitalização do movimento musical no meio evangélico e cita a banda como uma das responsáveis por esse momento.
Confira a entrevista com o baterista da banda Lucas Fonseca, baterista da banda:
Aliterasom – Com o surgimento de bandas como Crombie e Velho Irlândes, parece surgir uma nova estética na chamada música cristã. Como o Palavrantiga se insere neste recente contexto?
Lucas -Tudo que é estética musical; timbres, ritmos, melodias e elementos sonoros passa por constantes mudanças. E nesse sentido, é que destaca-se algo diferente na música Cristã. Longe de nós pensar que estamos salvando a música Cristã ou algo parecido com isso, como temos ouvido por aí. Na verdade, toda a trajetória da música Cristã brasileira passa por essas transformações estéticas, mas a essência é a mesma, ou pelo menos deveria ser. Ficamos felizes de participar desse momento, vendo tanta gente boa surgindo aí no meio, falando com suas poesias de tudo na perspectiva do nosso Criador, que tudo fez.
Aliterasom – A democratização na distribuição de músicas pela internet criou um fenômeno social: o quer era alternativo virou mainstream e o que era mainstream se mistura facilmente com que está surgindo. Não é um paradoxo, mediante a busca de uma regulamentação dos direitos dos artistas e a livre distribuição de mp3, que esta aparente liberdade tenha ajudado na divulgação de bandas que buscam seu espaço? O que a banda acha à respeito?
Lucas -Falar do ambiente virtual é algo incrível pra nós. Nascemos nesse meio. Se hoje, começamos a colher os resultados de dois anos de trabalho, lembramos do papel que a internet fez e ainda faz para o Palavrantiga. Conseguimos chegar com o som para as pessoas, antes mesmo de chegar com a apresentação. Quando se está começando um projeto com uma banda, tudo que você quer é espaço para divulgar seu trabalho, e nesse sentido, a internet foi uma grande parceira.
Aliterasom – É possível creditar à música uma propriedade de transformação na vida de uma sociedade, tais quais pensavam alguns românticos da década de 70 (Movimento Paz & Amor)? Qual é a proposta do Palavrantiga?
Lucas -Vemos isso acontecer com a música. Existe conceitos e ideologias pregadas em movimentos musicais na história da humanidade. A música tem o poder de mandar o recado sem explicar demais, apenas de provocar e mover as pessoas fazendo refletir sobre o que está sendo cantado. Existe um conceito de utopia que diz; é tudo aquilo que te tira do lugar, te faz mover-se por algo e para algo. O Palavrantiga tem uma mensagem de esperança que para muitos não passa de uma utopia, Para nós, é algo que faz todo sentido nessa caminhada. A expectativa é contribuir com algo de fato relevante, e não só apenas estética.
Aliterasom – A banda já conta com fãs fervorosos por todo o Brasil. Conquistou um bom estigma de banda indie querida. Como a história da banda começou?
Lucas -Trabalhamos quatro anos juntos com um outro projeto musical. A partir daí, depois de muitas conversas e reflexões, Marcos resolveu compartilhar algumas composições dele. Começamos então um exercício bacana de experimentar a musicalidade dos quatro amigos, de forma inédita para nós. A experiencia rendeu nosso primeiro algum que alguns já conhece chamado Vol. 1. Hoje continuamos a caminhada com o acréscimo de coisas novas somado a essa bagagem musical que já carregamos há alguns anos.
Aliterasom – O Brasil após muitos anos passou a ser roteiro certo de artistas consagrados no mundo todo. Existem festivais de música cristã no país com mesmo nível de aceitação? Existe alguma coisa que precisa ser melhorada na disseminação da música gospel?
Lucas -A falta de recursos as vezes limita a comparação a festivais de música brasileira. Algumas pessoas tem se esforçado, e mesmo com limitações, tem promovido coisas de alto nível, como por exemplo, o “Som do céu” que tivemos a honra de participar nessa edição de 2010. Agora, existe uma confusão teológica em não saber definir muito bem o papel do artista na música Cristã, o que acaba limitando a produção de alguns eventos e festivais de música Cristã. Deixo aqui um dever de casa, leiam Rookmaaker! Rsrsrsrs
Aliterasom – Palavrantiga não repete a imagem do senso comum da música cristã. Existe um DNA no som da banda. É possível explicar a unidade na diversidade?
Lucas -Bom, se existe algo que precisa convergir para a unidade na música Cristã seria o próprio Cristo. Caminhar em unidade na diversidade é tarefa árdua. O Palavrantiga não está separado de nada que rola no Reino de Deus, e esperamos estar juntos pelo Reino com aqueles comprometidos com esse chamado, mesmo que a sonoridade e a poisia seja contada e cantada de formas distintas.
Aliterasom – Como conciliar integrantes que moram em dois estados, a saber, Minas Gerais e Espírito Santo?
Lucas -Espírito Santo e Minas Gerais tem uma ligação afetiva histórica, desde a corrida por minerais valiosos, até os dias hoje com as muitas peregrinações dos mineiros rumo as belíssimas praias no litoral do Estado. Algumas pessoas curiosas perguntam como fazemos para ensaiar. As vezes respondemos brincando dizendo que ensaiamos via msn ou twitter rsrsrsrs. Mas de fato a distância acaba trazendo alguns pontos negativos, mas sempre estamos juntos, principalmente fins de semana. O bom da distância é que sempre se tem o sentimento de saudade um do outro….
Aliterasom – No início dos anos 90, em meio ao boom do rock brasileiro e na crença dos artistas, de que após uma grave crise econômica o país poderia ‘arcar’ com o investimento artístico, surgiram e também sumiram dezenas de bandas. Retalhar os motivos é contraproducente. Na opinião de vocês, o que faz uma banda fazer história?
Lucas -Que pergunta difícil! Fazer história deixando alguma marca relevante é algo sublime, que poucos de fato alcançam. Acredito que duas coisas podem contribuir para isso, a primeira; ter uma causa, aquilo que te faz mover, dizer e expressar com a música. Segundo, o seu nível de engajamento por essa causa. O segundo ponto talvez seja o mais árduo de se alcançar.
Aliterasom – Parece, que de uma vez por todas, mesmo com a imprensa especializada criando os rótulos que lhe são peculiares, o público parece cada dia mais eclético, por mais desgaste que este significado tenha sofrido. Os preconceitos musicais estão mais diluídos, pelo menos entre os ouvintes. No player do ‘novo consumidor de música’, rola de tudo. Desde música pop até o axé baiano, por exemplo. Mesmo soando positivamente novo, existe algum contra-senso na absorção de música em nosso país?
Lucas -Viva a diversidade…rsrsrsr Bom não tem como frear isso. O mundo sofre de uma revolução da informação, e isso atinge em cheio o campo das artes e não é diferente com a música. Cada vez mais as informações musicais chegam a todo vapor, todo dia nasce uma música ou artista novo. Não sei se posso dizer se isso é algo bom ou ruim, estamos no meio desse processo, e fica difícil medir. Agora o curioso é ver como que os rótulos e as pratilheiras se confundem no meio dessa explosão musical. Tenho uma expectativa de que no Brasil, uma hora a quantidade vai cansar os ouvidos, e a busca pela qualidade vai saltar os olhos cada vez mais. Vamos caminhar pra ver.
Aliterasom – O volume 1 já é um disco bastante conhecido pelo público que conhece o Palavrantiga da internet, dos seus espaços virtuais. Quais são as previsões de disco novo? Já existem músicas compostas para este projeto?
Lucas -Como já temos divulgado, recentemente fechamos a distribuição com a Canzion Brasil do tão esperado disco “Esperar é caminhar”. A partir da segunda quinzena de Novembro, o disco estará disponível não só nas apresentações, mas também nas principais lojas do país. Estamos felizes com essa parceria, e esperamos que tudo caminhe como o planejado.
Aliterasom – Mesmo sem disco novo, a agenda da banda mantem uma respeitosa variedade. O que vocês tem percebido – em termos de recepção – nos lugares onde tem se apresentado?
Lucas -Olha, a internet sem dúvida nos ajudou muito. Estamos um pouco mais que dois anos trabalhando com as canções do disco e colhemos momentos marcantes. Esse ano aconteceram as primeiras agendas para o nordeste. Fomos surpreendidos com o calor humano das pessoas. Aos poucos, como frisa o Marcos, aonde estamos passando, o Palavrantiga não conhecem fãs, mas cúmplices comprometidos em subverter a cultura com a Esperança. Que mais e mais pessoas possam somar com esse propósito.
Aliterasom – Seria interessante para banda tocar em festivais como o SWU ou mesmo o Rock In Rio?
Lucas -Tentamos tocar no SWU, mas não conseguimos. Mas é uma prioridade da banda ir a esses ambientes não eclesiásticos. Já imaginou Palavrantiga no palco do Rock in Rio ou outros festivais dessa relevância nacional. Aguardamos ansiosamente essa oportunidade.
Aliterasom – Na opinião de vocês existe música ruim?
Lucas – É difícil entrar nessa discussão, mas de fato existe. Algumas músicas pobres de criatividade ou de conteúdo, acabam perdendo a oportunidade de ser contempladas, por faltar beleza na sua essência. Em suma, uma produção artística que é podre de criação, pode ser chamada de ruim.
Aliterasom – Qual é o tom favorito do Palavrantiga?
Lucas -rsrsrsrss. Sem sombra de dúvida é o Ré. Marcos (vocalista) aproveita para gritar com as músicas em tom ré. A explicação dele é convincente, diz que as músicas do Palavrantiga tem um tom de desespero, e talvez o ré, não só ele é claro, traduza esse desespero na hora de cantar. Bom coisa de gente maluca, mas é a pura verdade.
Aliterasom – A simplicidade do evangelho dentro do cristianismo (ou vice-versa) tem sido debate de toda a sociedade civil, numa clara demonstração de evolução, dentro de um campo de reflexões. Ao mesmo tempo, neste momento particular, a música cristã consegue mais espaço fora de suas cercanias. Qual é a responsabilidade de cantar sobre Deus?
Lucas -A responsabilidade de que o Nosso Pai deixou algo precioso dentro dos seus filhos, e esse privilégio ele não compartilhou com qualquer um. Temos a cura e a resposta para todas as questões da humanidade. Quem tem de fato o Espírito Santo, sabe do que estou falando. E isso nos torna tão responsáveis em fazer com que essa Boa Nova seja experimentada por outras pessoas. Talvez esse nível de responsabilidade precisa estar cada vez mais impregnado.
Aliterasom – O que é o Hope Rock?
Lucas -Hope rock foi uma brincadeira com tom serio do Marcos. Uma tentativa de criar uma pratilheira, um rótulo para algo novo que está acontecendo na música Cristã. Seria algo parecido com uma outra frase que usamos; “Arte tecida na Esperança”. Mas de fato não passou disso, percebemos com o tempo que ninguém perguntou ou se interessou nisso, então deixamos essa preocupação de “rotular” de lado. Vamos caminhando!
Aliterasom – Quem vocês apontam como novas revelaçãoes da música popular brasileira (ou mundial) que vocês queiram compartilhar com os leitores do Aliterasom?
Lucas -Bom, pode fazer uma listinha? Nacional tem coisa boa acontecendo. No meio Cristão temos ouvido Lucas Souza, Crombie, Carol Gualberto, Stênio Marcius, Carlinhos Veiga e tantos outros que fica difícil citar. Falei alguns pois, acredito que a galera precisa conhecer que tem muita produção dos mais distintos estilos sendo feita. Recentemente no meio tradicional ouvi o ultimo disco do Rappa e me surpreendi. Tem uma banda mineira chamada Transmissor que também é uma novidade boa. Internacional eu deixaria duas, apesar de ter muita coisa boa saindo. A primeira é o Kings Of Leon que apesar das mudanças do ultimo disco, ainda está bom demais de ouvir, e o The Killers que é uma banda que todos do Palavrantiga sempre acompanha. Bom acho que deu né…
Aliterasom – Existem união destas novas bandas que estão surgindo no cenário? Existe alguma associação ou liga que permite uma integração e criação de projetos entre estas bandas?
Lucas -Interação? Arrisco dizer do meio que estamos transitando. A música Cristã está explodindo de coisa boa, mas isso não é divulgado, infelizmente, nos canais de imprensa cristã, em especial os de massa. Precisa pesquisar aí, os festivais e congressos onde essa turma boa acaba se juntando e fazendo o som acontecer. Já deixei alguns nomes para a galera pesquisar mesmo, então fiquem a vontade.
Aliterasom – Quais são os projetos para 2011?
É 2011 já está a porta. Estamos com uma expectativa boa para ele. Saindo o disco novo agora, esperamos ter um alcance maior, tem muito lugar no Brasil que ainda não tivemos a honra de estar. Alem da agenda, existe um projeto de gaveta de um vídeo clipe, que também esperamos lançar em 2011. E algo mais desafiador, mas que nos empolga muito seria a gravação de um DVD ao vivo no nordeste, o que acham? Bom, pra galera das outras regiões brasileiras, encorajo desde já, que se isso acontecer, vamos precisar de muitas caravanas ok. Rsrsrss
Abraço
Lucas Fonseca
PALAVRANTIGA
Fonte: Gospel +
Com informações de Whiplash e Aliterasom