Quem hoje o vê como um dos mais consagrados cantores da música gospel brasileira, jamais pode imaginar que, quando jovem, Sergio Lopes, o mais novo dos cinco irmãos, chegou a morar na rua após a morte precoce dos pais. A partir de então, para garantir a sobrevivência e dar continuidade aos estudos, alistou-se, em 1980, na Marinha e ingressou no Corpo de Fuzileiros Navais em Natal (RN). Com a transferência para o Rio de Janeiro, Sergio Lopes passou pelo teatro e também iniciou curso de Direito numa universidade carioca. Contudo, a música falou mais alto –desde garoto, com seu inseparável violão, já dedilhava compondo suas próprias canções. E não teve jeito: anos se passaram e ele teve que tomar uma árdua decisão: continuar no serviço militar ou seguir a carreira musical – e não precisa nem dizer qual foi a melhor escolha. O resultado disso é que o cantor tem, atualmente, 18 trabalhos, 11 Discos de Ouro e mais de 5 milhões de discos vendidos.
Depois de 11 anos, Sergio Lopes está de volta à Line Records e assinou contrato no início de junho. O lançamento do novo CD, previsto para setembro, virá com músicas inéditas com grande teor espiritual e seu tradicional estilo poético em suas letras. Confira a entrevista com o cantor:
O que o levou a voltar para a Line Records depois de 11 anos?
Sempre sigo os sinais de Deus e, há algum tempo, o Espírito Santo tem me inquietado a retomar essa parceria. Não criei nenhum tipo de perspectiva nem tenho ideia do que vai acontecer, mas estou sentindo paz e sei que essa reaproximação tem um objetivo espiritual.
O que está preparando neste seu novo trabalho? Em seu repertório, pretende manter o estilo poético das canções anteriores?
Estou preparando com carinho cada letra, cada arranjo; cada instrumento será tocado no seu devido lugar e momento, com a exploração de sua sonoridade em perfeita relação com a letra e a intenção da melodia. Tudo tem que sair o mais próximo possível da perfeição. A Line Records tem a grande vantagem de ter um estúdio maravilhoso e isso facilita a qualidade. E quanto ao meu estilo mais suave que me consagrou na música gospel, estou retornando a ele. Já é um sintoma de que está dando certo ter escolhido seguir os sinais de Deus.
Muitas pessoas não conhecem sua história de vida. Fale resumidamente a respeito da conversão à sua consagração como artista.
Tive cinco irmãos e eu era o mais velho. Cresci frequentando a igreja Congregacional em Campina Grande, na Paraíba. Aos 12 anos, ganhei um violão de presente e aprendi logo a compor minhas próprias músicas. Aos 15, perdi meu pai; aos 16, perdi minha mãe e a nossa casa foi vendida para “estranhos”. Ficamos na rua. Aos 18, entrei para a Marinha e vim para o Rio de Janeiro. Morei na Vila do João (comunidade carioca), depois Centro do Rio, Lapa, Copacabana, Ipanema e Icaraí. Aos 21 anos me converti a Cristo e passei a cantar todos os domingos num evangelismo que existia na Praça Serzedelo Correia, como membro da Igreja Batista de Copacabana. Ali me tornei um dos fundadores do Grupo Altos Louvores e assim começou minha carreira na música. Cada disco que gravava tinha sempre uma música que tocava nas rádios evangélicas. Os ouvintes se acostumaram a me ouvir sempre e isso sedimentou minha carreira. Fiz vários contratos, mas o melhor deles foi com a Line Records entre 1996 e 2000, porque foi quando colhi muitos frutos espirituais, e quando gravei músicas como “O Lamento de Israel”, “A Dor de Lázaro”, “A Fé”, “Te Amo”, “Sonhos” e “O Rei e o Ladrão”. Nessa época, fiz minha primeira viagem a Israel, onde fiquei 20 dias e conheci tudo que quis. Fiquei hospedado nos melhores hotéis, foi um presente que ganhei da Line. Por isso tenho um profundo sentimento de gratidão a esta gravadora, pois não conheço nenhuma outra que tenha feito isso por um de seus cantores.
Quem o influenciou para a carreira musical?
Foi uma pessoa chamada “sofrimento”. Aquilo que vivi na minha adolescência, que narrei na pergunta anterior, forjou a minha música. Mas sempre gostei muito das composições do pastor Paulo César da Silva, do Grupo Logos, e comprava os discos para ouvir. São belíssimas obras, que certamente serão ouvidos por muitas gerações. Sou fã dele até hoje.
Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
Foi quando tive que decidir, em 1995, se seguiria na Marinha ou iria largar tudo e viver pela fé, só com a minha música. Graças a Deus fiz a escolha certa: escolhi viver pela fé! No início foi muito difícil, morava de aluguel e, às vezes, pagava atrasado, mas logo Deus honrou minha escolha que, para muitos, no começo, pareceu loucura.
Como você analisa a música gospel brasileira?
Está muito diversificada e concorrida. De certa forma isso é bom, pois estimula a qualidade. Mas quem quer começar uma carreira agora depende muito de fazer um bom trabalho, que justifique as gravadoras investirem alto em divulgação, pois tudo está muito mais caro hoje.
E sobre a pirataria, você já foi vítima desse ato criminoso?
Acredito que sim, mas já ouvi dizer, por meio de um amigo de Fortaleza, grande comerciante de produtos gospel, que o meu público não compra meu trabalho na modalidade “pirata”, porque o meu estilo musical não combina com o estilo de “comprar gato por lebre”. “Música honesta combina com ouvinte honesto”, dizia ele. Achei legal o comentário dele. Ele vai ler essa entrevista e irá lembrar…
Como vê a internet na vida dos artistas? Utiliza-se das redes sociais para divulgar seus trabalhos?
Vejo a internet como uma ferramenta que pode ser usada para o bem e para o mal. Nós que somos cristãos temos que usá-la com muito mais cuidado que os demais. Estou começando a me interessar por usá-la também como meio de aproximação das pessoas pelo mundo afora e tenho uma boa experiência com o meu blog (http://cronicasdesergiolopes.blogspot.com).
Com uma agenda tão extensa, em viagens pelo País, sobra tempo para o convívio com a família?
Sempre dou meu jeito, porque esse tempo com meus filhos me interessa e é o que mais “recarrega as baterias”. É só a gente querer que dá e sobra tempo para a família.
Nas horas vagas, o que mais gosta de fazer?
Cozinhar, fazer pão caseiro, ler, escrever para o meu blog; à noite, gosto de ver um filme interessante, que tenha emoções e trate sobre relacionamentos pessoais; mas, ultimamente, escrever para o blog tem sido meu hábito mais frequente.
Em suas viagens pelo Brasil ou outros países, houve algum momento que lhe marcou muito na sua relação com o público?
Claro! A melhor foi quando cantei numa sinagoga ortodoxa em Toronto, Canadá, a música “O Amigo”. Tinha vários evangélicos lá dentro que pensaram que eu iria sair dali linchado. Mas como os judeus não entendiam português, consegui sobreviver. Não fiz isso por mal, nem como afronta, foi casual mesmo. Ocorre que depois de cantar duas músicas em hebraico e uma em inglês, o rabino me pediu para cantar uma música no meu idioma, porque a congregação estava curiosa para ouvir. Então não tive escolha! No violão, a melhor canção seria “O Amigo”. Eles gostaram, mesmo sem entender que eu estava falando de Jesus! Se entendessem… ai de mim!
Qual a canção que você mais gosta e que não pode faltar em seus shows?
“O Amigo” e “O Lamento de Israel”.
O que os fãs podem esperar de Sérgio Lopes na sua nova fase na Line Records?
As novas gerações não me conhecem e eu tenho que entender que para eles eu sou um “ilustre desconhecido”. Tenho que começar do “zero”, mas aceito o desafio. Conto com a ajuda da mídia nessa árdua tarefa de apresentar ao público gospel mais jovem o meu trabalho.
Fonte: Arca Universal