O rapper L-Ton R.E.P. concedeu uma entrevista falando sobre sua carreira, família, influências no meio musical e projetos.
Éliton Alex do Nascimento é carioca e nasceu numa família de músicos, tido como precursor do movimento hip-hop no Rio de Janeiro, onde fundou o grupo R.E.P., ao lado de seus irmãos.
Com 16 anos de carreira, já se apresentou ao lado de grandes nomes da música gospel e secular nacional, como FLG, Dj Alpiste, Sandra de Sá e Marcelo D2. Recentemente o rapper participou do CD “Meu Milagre” da cantora pentecostal Jozyanne, na faixa “Nada valerá”.
Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida por L-Ton R.E.P ao site Gospel no Divã:
Você pertence a uma família de músicos e, portanto, sua entrada nesse universo seria inevitável, mas em algum momento pensou em fugir desse futuro?
Não pensei em fugir, mas não era algo que eu perseguia. Tentei entrar para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) um tempo e estudei tanto que adoeci durante o preparatório e não consegui prestar o concurso. Depois me foquei em estagiar no meu segundo grau técnico. A música ia se desdobrando paralelamente, mas não era uma prioridade. Aconteceu aos poucos.
Como começou sua relação com o hip-hop e o que fez se apaixonar pelo estilo?
Uma tia minha retornou dos EUA e trouxe DC Talk e D.O.C para eu e meu primo. Quando escutei me identifiquei na hora com rap. Depois acabei conhecendo a cultura hip-hop e me engajei de vez.
Como foi o início da trajetória do grupo R.E.P?
Eu e meus irmãos mais velhos estávamos sempre nos dedicando a trabalhos sociais nas unidades da FEBEM e FUNABEM. Começamos a mesclar o rap nas músicas para prender a atenção das crianças e adolescentes internos das unidades. Tudo começou dessa forma, despretensiosa com o foco em ajudá-los a conhecer a Deus. Mais tarde, conheceria dois caras que me mostrariam que eu era capaz de rimar de verdade, de ser um rapper. Foi assim que nasceu o R.E.P. No início foi muito difícil lutar contra a tradição religiosa de nossas igrejas que não aceitavam e nos taxavam. Demoramos anos quebrando essas barreiras e sendo lapidados por Deus.
Evangelizar os menores infratores deve ter sido desafiante. Há alguma história impactante que gostaria de compartilhar conosco.
Todos os dias eram desafiantes. Inúmeras vezes que chegamos para trabalhar, o clima era de rebelião com a bomba prestes a explodir e se explodisse seríamos provavelmente reféns. Mas Deus sempre acalmava as coisas e conseguíamos fazer nosso trabalho em paz. Muitas vezes era difícil ir embora e ver nos rostos daquelas crianças e adolescentes o quanto éramos importantes demais para suas vidas. Doía e cortava o coração.
Acredita que a música é um grande instrumento de ressocialização?
Sim. A música, o esporte, a arte, o artesanato… Na verdade, o principal é dar oportunidade a quem vive à margem da sociedade para poder incluí-los para que vejam que são importantes e que podem ser como todos os demais.
Quem eram suas principais influências no início da carreira?
Complexo J, Banda Rara, Racionais MC’s, US3, DC Talk, D.O.C, DJ Alpiste, Montell Jordan, Gospel Gangstaz, Apocalipse 16… Muita coisa mesmo! Era rap ou black-music eu estava escutando.
O que as indicações ao Troféu Talento e ao prêmio Hutúz representaram na carreira do R.E.P?
Foram legais. Indicaram para muitos que estamos fazendo um trabalho sério, bem feito para a glória de Deus com excelência e profissionalismo. Gerou exposição, mídia e bons contatos. Reconhecimento é sempre bem vindo, mas não pode ser nossa motivação. Sem demagogia, mas se não recebêssemos a indicação, paciência! O trabalho continuaria sendo feito com a mesma dedicação e sempre buscando ser melhor ainda.
Por que optou em seguir a carreira solo e como ficou o R.E.P a partir dessa decisão?
Eu e o DJ W chegamos a conclusão que uma pausa para o momento que estávamos em nossas vidas seria necessário. Por isso optei por seguir carreira solo. Mas é engraçado porque ele quase sempre toca comigo em quase todos os shows e eventos. Nem parece que estou solo. Acima de tudo é meu amigo, irmão e sócio na Gospel Beat. Ainda não há uma previsão da volta do R.E.P, mas nada mudou em si.
Como foi o processo de concepção do seu primeiro álbum solo – SOLO Mixtape – e como foi a repercussão do álbum na cena black e entre o público gospel?
A SOLO Mixtape é um CD temático! A ideia era demonstrar que mesmo solo minhas convicções espirituais continuavam firmes com Deus e o processo também foi um pouco solitário. Era só eu e minha engenheira de áudio – Carolina Monte – internados no Top Five Estúdio gravando, regravando, mixando e masterizando e minha esposa Josie documentando com fotos e filmando. Só nós e Deus. Consegui fazer um CD mais “rua” como dizemos no hip-hop e, graças a Deus, foi muito bem recebido pelo público gospel e principalmente pelas rádios e públicos seculares.
Coleciona testemunhos de sua turnê Voo Solo Tour que serviu para divulgar o trabalho?
Sim. Testemunhos por e-mail, pessoas que se converteram ali diante do altar, depoimentos que recebi no Orkut, mensagens no Facebook. O mais marcante foi de um colunista de um grande site secular de cultura urbana me dizendo que se converteu ouvindo a SOLO Mixtape. Quando cheguei em São Paulo para tocar no Natal Black ele me contou esse testemunho ao lado da esposa também convertida. Meus olhos se encheram d’água! Me orgulho em Deus por Ele ser poderoso para me fazer seu instrumento. Sem Ele não passa de uma música legal… Nada mais.
E quando decidiu que era hora de atingir o Próximo Nível?
Nos últimos dois anos tenho sido incomodado por Deus para buscar outros desafios espirituais, a não ficar estático em um patamar, não me tornar um morno. Foi aí que decidi encarar isso de frente e acabou que as experiências se transformaram no disco. Porém, não há como parar mais. Sempre há um Próximo Nível na vida espiritual e assim será até o dia que formos para Glória.
O que o público pode esperar desse novo disco? O que ele terá de diferente em relação ao anterior?
O público vai poder perceber a mesma energia, a mesma dedicação de sempre, mas acho que um pouco mais de maturidade. Cada disco tem sua história e seu momento e ele espelha o momento atual que vivo focado rumo ao Próximo Nível. Tem algumas novidades no encarte como as letras e algumas ações promocionais interativas e diferentes dos outros.
Por que optou pelo título Próximo Nível?
Porque percebi que quando o conceito foi amadurecendo e o momento que eu vivia tinha que ser esse nome. Não saía da minha cabeça que fui chamado para a perfeição, a ser como Jesus Cristo e para isso há níveis na fé para galgar como está escrito em Efésios 4.10-13. Tudo foi crescendo junto: as ideias de capa, músicas, logotipo… Tudo!
Quais são os prós e contras para quem escolhe seguir carreira no cenário independente sem o apoio de uma gravadora?
Depende dos sonhos e metas de cada um. Independente rala mais em alguns momentos, o lucro é seu, mas o alcance é menor. Estar numa gravadora séria (porque tem muitas que se dizem gravadoras e nada são) é ótimo pela estrutura organizada, mas isso não quer dizer que vai ser sombra e água fresca. Muito pelo contrário… Acho que nas duas situações há muito trabalho e muita coisa boa para colher.
Quais são os maiores desafios para se atingir um próximo nível na carreira e na sua relação com Deus?
Continuar com o coração humilde, dependendo de Deus, lembrar que meu talento foi dado por ELE e que sou um mero instrumento, não se contentar com as primeiras vitórias e nem desanimar diante das lutas e crer e confiar sempre nos planos de Deus.
Com 16 anos de carreira, como avalia sua participação na história da cena gospel e como analisa a evolução da música gospel no Brasil?
Posso fazer mais. Sei, sem prepotência, que fui um dos pilares do movimento hip-hop gospel no Brasil, mas ainda há muita coisa para fazer. Ainda tenho muito pra somar e se possível inspirar novas gerações. Quanto à nossa música, o momento é ótimo, mas perigoso… Nossa economia é forte, a mídia e a população brasileira simpatizando como nunca, mas não podemos cair no erro de virar um ‘movimento cultural’. Nosso movimento é acima de tudo salvar e impactar vidas. Essa é nossa missão, nada mais! O que vier é lucro, mas nosso lucro maior é galardão dos céus e não um mercado fonográfico gospel apenas.
Recentemente, você fez um dueto com a cantora Jozyanne, uma artista com um estilo bem diferente do seu. Como surgiu o convite e o que achou da experiência?
Foi uma experiência maravilhosa e um grande aprendizado. Jozyanne é uma grande cantora, com uma estrada musical e uma vivência ministerial enorme! Foi um ótimo desafio. Como gosto de mesclar estilos eu curti demais. Fora que o Josué Lopez (produtor do disco e irmão da cantora) arrebentou na produção. Como músico não posso me limitar a estilos e o hip-hop tem essa característica de poder se adaptar a qualquer estilo musical. O convite surgiu por ela desejar contar com um rapper nessa música e um grande amigo – o Fael Magalhães – que fazia back-vocal nas gravações fez a ponte. Recebi a música, a inspiração veio do alto e vocês ouviram o resultado. Acho que ficou legal (risos).
Para encerrar, quais são os próximos planos para seu ministério?
Sonho com um DVD, trabalhar o audiovisual, videoclipes, mas tudo em seu momento, com equilíbrio e no tempo de Deus. Quero curtir cada dia mais meu casamento, ter filhos, ser cada dia mais útil na igreja que congrego. Então, tem muita coisa para rolar e estou atento às oportunidades que Deus vai providenciar.
Fonte: Gospel+